domingo, 3 de abril de 2011

"EDU DALLAS"


Depois de tecer muitas críticas à organização da Meia de Floripa, aproveito para trazer aqui o depoimento de um grande amigo sobre sua primeira Meia Maratona e que demonstra a distância "abismal" nos separa da qualidade e carinho com que são tratados os corredores nos EUA! Além de fazer uma espécie de Homenagem ao cara que me "colocou de volta" no IRON do ano passado e que é um exemplo pra todos nós!

Por Eduardo Gomes:

"olá! Devo confessar que estava sem tempo e também com preguiça de escrever este depoimento, até por que eu iria escrevê-lo sozinho e não teria outros para ler, como sempre, a respeito da mesma prova. O que me mobilizou a finalmente começar este texto foi ler o blog do Marcos Alexandre sobre a Meia de Florianópolis, na qual eu fiz 10km. Quer dizer, fui prá fazer 10km e fiz mais 400m de pura incompetência de quem organiza essa prova. Pro meu nível de corrdor, isso não significa absolutamente nada mas errar na marcação das distância numa prova dita internacional é o fim. Colocar 2 pessoas para distribuir gatorade e ainda por cima no km 2, sem comentários. São sérios concorrentes de quem organizou a Jurerê Night Run final do ano passado... Até agora não me conformo com o pódio que construiram para a premiação. um absurdo de vagabundo, material de quinta categoria, nas provas de rua lá em Olho D´água dos Borges, no sertão do Caicó, lá no Rio Grande do Norte é mais bonito e bem feito. Os banheiros (hã? o que?) o que falar? Uma pocilga fedorenta. Bom, começando a falar lá da Meia de Dallas, os banheiros: não havia divisão nem de homem, nem de mulher, nem de criança... Quando eu fui usar, já na dispersão da chegada, pensei: agora dancei... Entrei na pequena fila em frente às mais ou menos 20 casinhas de necessidade, esperei minha vez, entrei e me assustei: vários rolos de papel disponíveis, não havia odor de NADA no ambiente e NENHUMA gota de nada na tampa, no chão, em lugar algum, nenhum papel no chão... Era um banheiro químico semelhante aos que a gente vê nas nossas provas. Acho que mais limpo que o da minha casa... Aí não é apenas um problema da organização que seleciona uma empresa que usa material e produtos de péssima qualidade na higiene dessas casinhas, mas também da educação do povo que as usa. Ou seja, nós mesmos. A largada da prova as 8h (exatamente) foi por ondas. Vários currais que delimitavam grupos de corredores por tempo de prova que cada um definia na hora inscrição. Currais de 1h10', 1h20', 1h30' e assim por diante. Eu me coloquei no de 1h50´, já que pretendia fazer a prova abaixo de 2h e acima dos 1h50'. (Foi uma pretensão planejada por dias e dias, com base nos tempos das últimas provs que participei). Cada curral era liberado após 30 segundos do anterior largar. Nessa forma de largada, não há aquele atropelo geral, gente que corre mais querendo ultrapassar os da frente, gente que corre menos empatando quem vem atrás, coisas que a gente tá acostumado por aqui. A temperatura foi a coisa mais doida que já vi: no sábado estava 28 graus, clima seco, umidade 20%. No domingo amanheceu a 4 graus, umidade de 89%, vento cortante... Por sorte eu havia levado meu equipamento para correr no frio... Mas foi, em alguns momentos insuficiente,estava frio demais... Como eu nunca havia participado de uma prova dessa distância, e a minha prova mais longa até hoje foi a São Silvestre (15km), fui mais detalhista e sistemático do que nunca, prá ter certeza que eu chegaria, chegaria inteiro e ficaria inteiro depois da chegada... Estudei a altimetria e o percurso a fundo. Como eu trabalho nessa cidade há mais de 12 anos e a prova passaria por onde trabalho e por muitos lugares que eu conheço bem, fui montando meu planejamento quilometro a quilometro: pontos de hidratação, de gel, as subidas, as descidas e fui estabelecendo metas: até o km 3, iria fazer a 6:00'/km, até o km 11 a 5:45", até o km 15 a 5:30" e daí até o final a 5:15", prá dar um tempo final de 1h57'45", com pace de 5:36". Parece coisa de maluco, mas este foi meu tempo final: 1h58'04", pace 5:37"... Errei por 19 segundos, preciso melhorar :))) Consegui uma média bem constante: no km 5 estava a 5:36" no tempo de 27', no km 10 a 5:36" com tempo 55', no km 15 a 5:24" com tempo 1:23' ( na São Silvestre fiz essa distância a 1h35', baixei 12min!) No km 20 olhei no garmin, estava em 1h50', pace 5:30" !! Vi que tinha sobra prá dar a socada final e chegar entre 1h54:30 e 1h55'. Maravilha!! Aí começam a cair os disjuntores, a luz vrmelha acende: ameaça de cãimbra nas duas panturrilhas !!! Não acredito!!! No km 20!!! Tive que parar prá me alongar senão a cãimbra pegava de vez... alonguei, alonguei, saí andando com as pernas duras e segui do jeito que deu. Mais um pouco, outra quase travada de novo... parei outra vez, vou lá na borda da calçada e me alongo o mais que consigo... Enquanto isso, aquela multidão vai passando por mim... que desespero!!! Um monte de gente que havia passado principalmente na primeira metade da prova que era só de subida (aqui a gente entende a diferença de quem treina nos morros em Florianópolis e quem só treina no plano, fiz a parte das subidas tranquilamente...) ia me ultrapassando... Comecei a apavorar... sai andando de novo que nem pato, não podia mexer os tornozelos senão travava... Eu não iria parar de jeito nenhum, nem que chegasse de quatro ou arrastando a bunda no chão eu iria chegar, mas eu queria fazer em menos de 2hs... Me lembrei que tinha crédito de tempo suficiente até prá ir andando rápido, relaxei mais, alonguei de novo e fui em frente... Veio a quase travada final, pela terceira vez! Desta vez a cãimbfra ameaça dté a parte posterior das coxas... Paro e me alongo de novo, mais e mais e continuo a correr do jeito que dava, parecia o Charles Chaplin, só faltava a bengala :))) fui que fui e cheguei ! Quando cruzei a chegada e vi o garmin a 1:58':04, não acreditei! Consegui chegar e fechar dentro do tempo que eu havia programado! Aqui entra a parte triste da história: não havia ninguém prá comemorar, abraçar, chorar, gritar, pular :( Não tinha a Sabne prá flagar a gente nesses instantes... Eu havia feito uma coisa até um mês antes impensável e não tinha com quem compartilhar lá na hora... O legal foi que os tapetes de chip colocados ao longo da prova, nos km 5, 10, 15 e nas 10 milhas foram enviando os tempos pro celular da Vanesa e ela foi repassando aos amigos que estavam de longe torcendo. Os celulares da região estavam quase incomunicáveis, a rede estava totalmente congestionada, imagine mais de 11.000 pessoas querendo falar ao mesmo tempo... foi quando recebi uma ligação do André, marido da nossa ogramiga Lú e que conseguiu furar o "bloqueio".. que alegria ouvir uma voz amiga nessa hora! Aí o frio (de 4 graus) começou a bater feio, comecei a tremer, ficar gelado, estava molhado de suor que começava a me congelar... as pernas quase não se moviam, travadas, fui me arrrastando até os ônibus aonde a mochila estava guardada, com as roupas secas e quentes, pehuei ainda mais uma fila de alguns minutos e me vesti.. que alívio!!! Fiquei ainda mais de uma hora tremendo de frio, esperando meu amigo que foi me buscar e nos desencontramos... A única coisa que nessa hora eu queria era tomar um café fervendo, ir prá casa e me enfiar embaixo de uma ducha bem quente prá me aquecer... Foi uma experiência incrível, pena não ter a equipe correndo junto, faz uma diferença que não tem nem como explicar, mas encontrar depois o povo no facebook, ver a quantidade de mensagens e papear foi muito, muito legal !!! Agradeço de coração aos amigos que gastaram sua energia para à distância me empurrarem ladeiras acima, me segurarem nas descidas e me puxarem nas retas, foi muita força que recebi para conseguir fazer tudo isso. Foi a torcida de vocês o grande responsável por eu ter conseguido cumprir minha tão paranoicamente calculada meta :))) Ao meu querido treinador, que quase infartou quando soube que eu iria participar dessa prova, minhas desculpas pelo susto e meu muito obrigado pelas suas cobranças, comentários e elogios. Elogios, a gente logo esquece, as cobranças... Meu agradecimento especial prá minha amada ogra Vanesa, que me "segurou" a prova toda e montou essa rede de apoio à distância. Sem você, meu amor, ia ser muito mais difícil alcançar esse sonho! Abraços a todos e até as próximas provas, desta vez com todos juntos, ainda que seja dentro de uma van com "aquele" cheiro de suor, comendo sanduíche de queijo e peito de perú, coca-cola, accelerade cor de diabo verde e banana, horas e horas a fio..."
Edú

Um comentário:

Anônimo disse...

que honra ver minha longa história neste blog, meu amigo!
até eu gostei de ler de novo :)))
grande abraço!
Edú